Segue abaixo texto do discurso proferido pela Promotora de Justiça Márcia Denise Kandler Bittencourt na Sessão Solene em homenagem à Semana da Pátria, realizada no dia 2 de setembro de 2014, na Câmara de Vereadores de Pomerode:
"A ideia de pátria liga-se à visão nacionalista de um povo
em relação ao território de seu pais, liga-se ao orgulho de ser brasileiro, de
ser americano, de ser alemão, por exemplo.
A Pátria também está ligada à independência de um Estado.
Sem independência não há Estado, sem Estado não há pátria.
A importância e a materialização do conceito de pátria em
relação a um determinado país está nos ideais comuns e nas ações do respectivo povo
para que tais ideais sejam concretizados.
É o amor e o respeito pela terra natal que levam a sua
população a bem cuidar desse território e a promover a qualidade de vida dos
seres que ali habitam.
O patriotismo implica no engajamento da população para
conferir êxito na resolução das pendências e dos problemas do país.
São as ações de cada pessoa que fazem a diferença, seja a
de um professor ou educador quando repassa aos seus alunos lições sobre valores
sociais e morais, sobre educação ambiental, quanto ao respeito ao semelhante,
seja de um pai que educa, orienta e zela por um filho, seja de um grupo de
pessoas que desenvolve um projeto social, seja de um jovem que resolve servir
ao país, seja de uma pessoa que respeita as diferenças, que valoriza a
experiência dos mais idosos, seja de um cidadão quando decide por um voto
consciente... enfim, são tantas as possibilidades de atuação de uma pessoa em
prol do bem estar do pais, mas é fato que todas demandam ultra-atividade de
intenções, ou seja, ir além do "meu interesse", de pensar no bem
estar comum e não apenas nas "minhas necessidades".
Esse pensamento deve seguir desde o maternal até as mais
altas esferas de gestão das entidades públicas e privadas.
John Kennedy, que presidiu os Estados Unidos no
início dos anos 60, defendia uma nova era de esperança, paz e prosperidade. Ele
estimulava em seus ouvintes o aumento da confiança no país e a esperança no
futuro, e levava uma mensagem de respeito aos direitos civis e sociais.
É dele a frase, em seu discurso de posse: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas sim o que você
pode fazer pelo seu país?”.
Eu vejo pessoas pedindo mais educação, mais renda, mais
saúde, mais lazer, mais instalações de empresas, mais geração de empregos, mais
segurança pública... e me questiono, o que essa mesma pessoa está fazendo para
viabilizar ou contribuir para essas melhorias.
Então alguém poderia me responder: nada! pois não cabe a
mim governar o país.
Será? Mas os eleitos não são os representantes do povo?
Ainda, afora a representação pelos políticos, existe a execução
direta pelo próprio povo.
Onde está a iniciativa popular para apresentar projetos de
lei? E a organização em entidades sociais? E o respeito aos bens públicos? E o
compromisso em levar seu filho para a escola? E a responsabilidade pela
educação moral? E o respeito pelo próximo? E a paciência com uma pessoa com
deficiência ou com um idoso? E o zelo com o patrimônio, seja público ou privado?
Está em casa, em cada um de nós.
Não prego aqui a retirada da responsabilidade dos entes
públicos quanto à qualidade de vida e dos serviços prestados à população, mas
incito as pessoas a tomarem a iniciativa pela gestão de suas vidas em
consonância com o bem estar social e não com o bem estritamente pessoal.
A maioria das contendas judiciais seria resolvida em
simples acordos se as partes ponderassem ou ao menos ouvissem as razões da
outra parte e compusessem os interesses.
Crimes seriam reduzidos se as pessoas pensassem nas
consequências nocivas de seus atos antes de os praticarem.
Os serviços seriam melhor prestados, seja na esfera
pública, seja na privada, se o respectivo prestador assumisse compromisso com o
resultado do trabalho por si executado.
Serviços públicos inerentes à assistência e saúde seriam
desonerados se houvesse mais compromisso social com a preservação do meio
ambiente, com a qualidade do ambiente de trabalho, com o crescimento ordenado
das cidades, por exemplo.
Daí a importância da pátria.
E esse conceito de patriotismo não pode ser dissociado do
conceito de política.
Não a política enquanto geração de empregos... quero ser
político porque ganha bem, porque preciso de uma fonte de renda... mas a
política como forma de atuação de um governo em prol dos interesses públicos,
como meio para governar um país compatibilizando interesses. Interesses
públicos e não pessoais ou de um determinado grupo, nicho ou partido.
Política, hoje refutada por muitos que a consideram como
atividade que se presta a defender interesses pessoais ou de um grupo, na
verdade é, ou deferia ser, a mais pura e necessária manifestação do patriotismo,
por meio da qual as pessoas articulam e conciliam interesses diversos em prol
do bem e crescimento comum.
Não somente políticos, mas todos os indivíduos
substancialmente distintos atuando em prol da realização das atividades de
Estado com vistas ao bem-estar da população.
O significado de pátria, reitero, vai além do conceito
geográfico de território, da administração pública e da soberania do país.
O patriotismo exprime os sentimentos que ligam à pessoa à
nação, sob a forma de convicção de a ela pertencer.
O patriotismo envolve respeito ao território, à terra natal,
mas sobretudo aos compatriotas.
O patriotismo pode ser manifestado pela exaltação às
belezas naturais do país, aos seus símbolos nacionais, à valorização da
cultura, mas também poder ser demonstrado pela atuação na resolução dos problemas
sociais que o país enfrenta.
A presente comemoração ao dia da pátria se presta, antes de
tudo, à renovação da reflexão quanto ao verdadeiro significado de independência
nacional, de compromisso social e de necessidade de atuação participativa da
sociedade em prol e na execução de seus interesses.
Concito-vos, nessa semana de exaltação da pátria, a pensar
e a atuar pelo nosso país."